quarta-feira, 8 de agosto de 2012

POEMA


Na tua origem
Está um líquido viscoso
Esbranquiçado e sujo
Invadindo o ventre de alguém
Transtornada de luxúria
E de palavras mágicas
Dentro do corpo a sujidade infecciona
E a carne incha como um furúnculo
Por longos meses de febre e luta
E um dia um dia a sujidade invade o mundo
Nua coberta só de sangue e plasma
Aos gritos
Sem nada e sem saber nada
Sequer uma palavra
Uma lâmina afiada confere-te individualidade
Lavam-te o corpo põe-te um seio na boca
Dão-te um nome
Passas então a existir


Paulo José Miranda

É poeta, escritor e dramaturgo. Nasceu na Aldeia de Paio Pires, Setubal, em Portugal. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Lisboa. É membro do Pen Club desde 1998. Publicou três livros de poesia, quatro novelas, uma peça de teatro e "A América". O seu primeiro livro de poesia venceu o Prémio Teixeira de Pascoaes em 1997 e a sua segunda novela venceu o primeiro Prémio José Saramago em 1999. Recebeu uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura para escrever a sua terceira novela e uma outra da Fundação Oriente para viver três meses em Macau e escrever a sua quarta novela. Tem vários poemas, textos e artigos editados em revistas e jornais de vários países. O seu mais recente livro publicado é "A América", um texto àcerca dos EUA, em 99 pontos, editado em versão bilingue pela Quetzal/Bertrand; texto que começou por ser publicado online em 2004.

[Postado por Daniel Moreira]

Um comentário:

Ju Blasina disse...

Grande poeta! Grande Poema!