sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Depois de tua mentira

Depois de tua mentira
Não há diferença
Entre  paredes e rios
Pássaros e leões
Gabinetes e favelas
Entre a margem e o infinito.

Depois de tua mentira
Flores e armas matam
Sol e tempestade se abraçam
Poesia e estatutos
Moram na mesma estante
Cadáveres e asas
no mesmo concreto.

Depois de  tua mentira
índios, muçulmanos, armas e brancos
moram na mesma tenda
nada mais se separa.
(até os estúpidos
compreenderam a liberdade roubada
daqueles que nos descobriram aqui)

Depois de tua mentira
não há sentido nas coisas
não há sentido
no sentido
de sentir
não há separação de homens
espécies, ritimos
raivas, amores e linguagens

nem de lixo e lustres em tetos de mármore
nem de crianças atrás da bola
e de políticos atrás de cofres

Depois dessa tua triste e insana
mentira
Veio até mim
o vão
O vão das coisas
O vão sozinho
E a descrença de tudo
No que fala
No que é mudo
No que é oposto
Que é desgosto
E no que é posto.

Depois da vinda da tua mentira
Nada mais me virá.

[postado por Ediane Oliveira]

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Da sala de espera da consulta


No canto esquerdo
                           [daquela janela
é que a saudade vem.

Engraxando os sapatos
                           [escorado no vidro
é que a saudade ele tem.

De cócoras,
pensa em tudo.
De mãos no bolso,
percebe o desdém dos 'outros' ao seu redor.

E saudade e saudade e saudade...

é o fotógrafo,
aos trinta anos,
repensando o peso do tempo.

- Paremos de lamento,
o dia da consulta chegou.

Gabriel Borges

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Aos meus reais

Aos amigos
reais
aos amores
leais:

há toda essa gente
que ri e que chora
e que tanto se sente
e pelas quais rio eu
mesmo quando descontente
e muitas vezes sou pega
a chorar descrente

da/de verdade

ainda que a elas se conte
feito pequenas contas roladas
com as pontas dos dedos
é por elas que a vida se faz
raridade

e cada riso, cada lágrima, cada dia
e noite e dia e... todo o sentir
mesmo o pesar 

do suspiro
do poema
sobretudo
o último dos meus
passa por elas


e assim 
a poesia se faz 
enfim a valer
a pena.


Por Ju Blasina

segunda-feira, 26 de novembro de 2012



Pensar na vida
como um jazz
onde a próxima nota
é sempre imprevisível
mesmo desafiando
a harmonia das coisas
o som surge sempre
e o silêncio evidencia
o ritmo encantado
de um coração que sonha
sobre todas as coisas

A pesar de tantas mortes
pensar na vida
como um jazz
e dançar
ao sabor das horas
como se jamais
houvesse um fim
como se jamais
houvesse um início

[postado por valder valeirão]

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A balada do cárcere de Reading

No entanto, todo homem mata aquilo que adora,
Que cada um deles seja ouvido.
Alguns procedem com dureza no olhar,
Outros com uma palavra lisonjeira.
O covarde fá-lo com um beijo,
Enquanto o bravo o faz com a espada!

Uns matam o próprio amor quando ainda jovens,
Outros o fazem na velhice;
Uns estrangulam com as mãos da luxúria,
Outros com a mão de Ouro,
O que é bondoso faz uso do punhal,
Porque a morte assim vem mais depressa.

Uns amam pouco tempo,outros demais,
Uns vendem,outros compram;
Alguns praticam a ação com muitas lágrimas
E outros sem um suspiro,sequer:
Pois todo o homem mata o objeto do seu amor
E, no entanto, nem todo homem é condenado à morte.

Oscar Wilde

[postado por Ediane Oliveira]

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Para Lindsay

Vachel, as estrelas se apagaram
a escuridão caiu na estrada do Colorado
um automóvel rasteja lento na planície
pelo rádio ressoa o clangor do jazz na penumbra
o inconsolável caixeiro viajante acende mais um cigarro
Há 27 anos em outra cidade
eu vejo sua sombra na parede
você de suspensórios sentado na cama
a mão de sombra encosta uma pistola em sua cabeça
seu vulto cai no assoalho


Allen Ginsberg

[Postado por Daniel Moreira]

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Fogo e gelo

Alguns dizem que o mundo acabará em fogo,
Outro dizem em gelo.
Do que já provei do desejo
Fico com aqueles que são a favor do fogo.
Mas se tiver de acontecer duas vezes,
Penso que sei já o suficiente do ódio
Para dizer que a destruição pelo gelo
Também é boa,
E há de bastar.

Robert Frost



[postado por Ju Blasina]

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aqui estão os loucos. 
Os desajustados. 
Os rebeldes. 
Os criadores de caso.
Os pinos redondos nos buracos quadrados. 
Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. 
Eles não curtem regras. 
E não respeitam o status quo. 
Você pode citá-los, 
discordar deles, 
 glorificá-los ou 
caluniá-los. 
Mas a única coisa que você 
não pode fazer é ignorá-los. 
Porque eles mudam as coisas. 
Empurram a raça humana para a frente.
E, enquanto alguns os vêem como loucos,
nós os vemos como geniais. 
Porque as pessoas loucas o bastante
 para acreditar que podem mudar o mundo,
 são as que o mudam.

Jack Kerouac

[postado por valder]

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Faxina

A sinceridade dos fatos
diminui a aflição.

Não era bossa nova
que daria o entendimento do todo,
talvez, encontrasse resposta em uma explicação tropicalista.

Versos simples.
Palavras quase que soltas
[desconexas
sopradas ao pé do meu ouvido
mostravam a composição da imagem.

Aquele quadro
[não na parede, mas sobre o braço do sofá velho, surrado
refletia a minha sensação:

o quão importante são estas estéticas empoeiradas para a mobília do meu apartamento.





Gabriel Borges

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A seu favor

Sempre que me chamas
Lá do alto
Onde moras
Eu percebo o quanto é bom
Poder voar sem asas
Sempre que és chama
Fogo alto
E vai embora
Eu consigo levitar
Ao passear por sua brasa
E quando me pedes
Sem receio
Que eu a encontre em tanto tempo
Enrolo logo um bom motivo
Pois sou fumaça no vento
A seu favor.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

da dor [da morte] dela

Eu deveria estar ao seu lado
no momento
da morte dela
eu deveria estar
ao lado dela
no momento da sua
morte
quem fica?
quem vai?
qual é o lado
certo
em que se deve
estar?
tanto faz
quer seja
mãe
pai
filho
ou filha
quer seja
bicho
quer seja
gente
a gente
dói
se vai
e há dor se fica
tanto
tanto
que já nem sequer se sabe
de que lado se deveria estar
e na dúvida
a gente se fica

mais um tantinho.

postado por Ju Blasina.
Eu queria ser desses
que nunca aprendem
a quem a vida
não consegue ensinar

queria ser como
os que gozam e não sentem
como os que partem
sem nenhum anseio de voltar

mas estou do lado de cá
onde a visão encurta as distâncias
e ofusca a imensidão
aqui de onde partem
múltiplos caminhos

e um poema
é quase sempre
a única saída.

valder valeirão

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

.


quatro medos diante do tempo
em cântico, terno desespero
doce rancor desse deus severo
que me atrasa em seu pensamento
e esquece que nos prometeu
à poesia: o lugar sincero.

Guilherme Oliveira é de Pelotas. 
www.zeroismo.blogspot.com.br

[postado por Ediane Oliveira]

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

#30

Oi, eu sou seu passado presente no futuro
Sou todos aqueles dias que você preferiu esquecer
Sou todas aquelas eternidades que você ousou prometer

De certa forma, sim
Eu sou você

Oi, eu sou a dor
Sou tudo aquilo que você não pode controlar
Sou quem te faz engolir seco, angustiar

Sou cegueira e luz pra atormentar
Meta de começo de ano que você não cumpriu
Data, pessoa, poema que você esqueceu
Quantidade que você já mentiu
O bilhete que ninguém leu

Sou aquele
Aquele
Aquilo
E aquilo outro.


Máximo Ávila é de Manaus, mas reside em Pelotas. É poeta.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sola

quiere estar sola
con su mirada ilegal

con su cruzada fatal
con su depresión de moda

quiere estar sola
con sus gafas de gales
flasheando sociales
dando su nota

quiere estar sola
con su agenda por cerca
nadie se acerca
mientras siga la boda

quiere estar sola
con el áurea morada
con la espina clavada
del botón de su rosa.


Vicente Botti
Nascido no Uruguai, músico, compositor, produtor cultural, cozinheiro e idealizador de grandes projetos culturais, entre eles, o Poesia no Bar.

[Postado por Daniel

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Despretensioso


Quem sabe
despejo a pecha
de desleixado
e deixo de lado
a Vida.
Desperto
do outro lado
disperso e desesperado,
desiludido e desavisado,
distante
de todo disparate.

Paulo Olmedo
Rio-grandino, formado em Letras-Português pela Furg e mestrando em História da Literatura, pela mesma instituição, possui experiência na área de Teatro e Audiovisual tendo escrito, produzido e atuado em alguns minimetragens e videoclipes locais. É colunista do Coletivo Fita Amarela, escreve esporadicamente no blog Vida Irreal, além do blog destinado a divulgação e promoção de seu primeiro livro, "A Razão do Absurdo" - com lançamento no próximo dia 10 (mais informações, no link: arazaodoabsurdo.blogspot.com.br).


[postado por Ju Blasina]

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Alquimia

Pela lei dos corpos em movimento
Forças centrífuga e centrípeta
Teu corpo, meu corpo
Exata sincronia

Pela lei da vibração molecular
Dilatação dos líquidos
Meu sangue, teu suor
Alquimia perfeita

Pela lei da gravitação universal
Meteoro no teu mar
Meus olhos, tuas órbitas
Explosão de supernova

Pela lei da relatividade
Espaço-tempo indivisível
Eu em ti, tu em mim
Átimo infinito

Pela lei quântica dos átomos
Indecifrável conceber
Eu contigo, tu comigo
Minha única lei.

Martim César

martimcesar.blogspot.com.br

[postado por valder]

domingo, 4 de novembro de 2012

Sexta-feira


Misturo linguagens
Movimentos de sintonias e versos
Fujo às regras invisíveis do lirismo
Concretizo incertezas sem linhas
Me confundo na poética
Na prosa, semiótica
Sem saber de nada
Pra dizer que te sinto.

Ah, se tu soubesses de mim!
Ah, se fôssemos um...
Seriamos mais.

Seriamos menos
essa ausência toda.

[Ediane Oliveira]


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Faxina


A sinceridade dos fatos
diminui a aflição.

Não era bossa nova
que daria o entendimento do todo,
talvez, encontrasse resposta em uma explicação tropicalista.

Versos simples.
Palavras quase que soltas
[desconexas
sopradas ao pé do meu ouvido
mostravam a composição da imagem.

Aquele quadro
[não na parede, mas sobre o braço do sofá velho, surrado
refletia a minha sensação:

o quão importante são estas estéticas empoeiradas para a mobília do meu apartamento!

Gabriel Borges